1 de março de 2009

Drugstore Bukowski Recomenda [Cinema]: "Paixão Suicida" (2006)

Quem busca o suicídio, aparentemente procura acabar com a dor e todo o sofrimento que implica o existir. Assim rompendo com a própria vida o suicída estaria procurando um estado melhor, ou buscando coisa alguma, apenas um alívio. Esta parecia ser a intenção do protagonista do filme "Paixão Suicida" (no título original, "Wristcutters", literalmente, 
"cortadores de pulsos") quando decide morrer. Porém quando Zia (Patrick Fugit) chega ao além, ou melhor, ao mundo dos suicidas, muita coisa parece não ter mudado. Arranja um trampo fodido, vai morar com um Austríaco chato, existe a polícia, uma tal organização que se assemelha ao Estado. Tudo muito parecido, porém pior. Todos que lá vivem são suicidas. Portanto não sorriem, tudo é praticamente cinzento e sem graça.

Estamos diante de um suposto "universo dos suicidas", composto por "loosers" e desajustados, pessoas que tiveram uma vida ordinária e que decidiram abrir mão dela para se sentirem melhores, porém a fuga do mundo real é fadada a um fracasso maior ainda. Ai está toda a graça deste belo indie movie americano. Como exemplar do cinema alternativo americano, o destaque está num enrendo original e bem construído, mantido por boas atuações. Referencias pop não faltam, a começar pela ótima participação de Tom Waits no filme. Pelo que eu já falei já valeria a pena ver o filme, porém o desenrolar é muito legal. 

Em determinado momento Zia descobre que sua (ex?) namorada também se suicidou e portanto deve estar por lá também. Sabendo disto resolve ir atrás dela. Junto de seu amigo russo Eugene (Shea Whigham, muito bem caracterizado) partem para uma viagem praticamente sem rumo, pois eles não tem idéia de onde ela possa estar. A partir dai se inicia um road movie diferente. No caminho conhecem Mikal (a lindíssima Shannyn Sossamon), uma garota que diz estar ali por engano, e que pretende encontrar uma suposta organização que teria o controle sobre tudo.

O que é realmente interessante - além deste enredo curiosíssimo - é a reflexão acerca de um tema pouco explorado, o suicídio, e ainda de maneira descontraída e satírica. Levando um pouco mais adiante, a abordagem por um tema que me agrada muito - a vida daqueles que não se "encaixam" ao status quo, ao stabilishment, enfim, ao modo gauchè de ser. De certa forma todos os personagens ali en
contram a situação única de estar entre iguais. Quando viviam eram todos de certo modo marginais: drogados, deprimidos, pessoas que não suportavam se enquadrar em algum modo de vida aceitável e "normal". Só que ao morrerem, o suposto alívio e a busca por outra condição são frustrados. Portanto a angústia exestencial não se extinguiu, pelo contrário, se acentuou. O tema do suicídio com certeza não é novo, mas esta abordagem sim. 

Para aqueles que são abertos à novas visões e, de preferência, a uma outra visão que não aquela homoneigizante, romântica e idealizada sobre a vida que o cinema costuma trazer, onde a velha ideologia do american life, do "seja feliz" predomina, é um puta filme. Nem tanto pelas qualidades cinematográficas, mas pela abordagem ousada e criativa.

Ficha Técnica:

Título: "Paixão Suicida" (Wristcutters: A Love Story, EUA/Inglaterra, 2006)
Gênero: Drama/Comédia/Humor Negro?
Direção: Goran Dukic
Roteiro: Goran Dukic, baseado no conto "Kneller's Happy Campers", de Etgar Keret
Elenco: Patrick Fugit (Zia), Shannyn Sossamon (Mikal), Shea Whigham (Eugene), Tom Waits (Kneller), Will Arnett (Messiah), Leslie Bibb (Desiree)
Para quem gosta de: cinema alternativo
Pontos Altos: roteiro, atuações, trilha sonora, fotografia.
Pontos Baixos: nenhum
Avaliação: 9,5

Trailer:








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