28 de junho de 2011

Drugstore Bukowski Recomenda [Cinema]: "Intimacy" (2001)

Há algum tempo atrás escrevi no outro blog sobre o desapego - ou seu oposto, o apego - que os seres humanos criam por pessoas, coisas, idéias, etc. Este filme do francês Patrice Chéareau (de "A Rainha Margot") teria a ver com o tema, mais precisamente o filme trataria da questão do vínculo, assunto tão importante para a Psicologia e mais especificamente para a Psicanálise.

O filme gira em torno de dois personagens (Jay e Claire) que se encontram no apartamento do rapaz afim apenas de sexo - algo que lembra de longe, guardadas as devidas proporções, "O Último Tango em Paris", porém no cenário contemporâneo. A história não revela como se iniciou este peculiar "relacionamento" - se é que podemos chamá-lo assim. E é justamente este questionamento que Jay traz no decorrer do filme: isto é um relacionamento? Quem é esta mulher que vem aqui apenas para transar?

Formalmente, no horário pré-estabelecido, Claire chega ao apartamento. Sem trocar uma palavra, partem para o ato sexual. Terminado, vestem-se as roupas e ela sai. Esta forma maniqueísta de transar deixa Jay encomodado. Passa a persegui-la e descobre coisas sobre sua vida. Chega a "criar" uma falsa-amizade com o marido de Claire. É ai que cada vez mais esta peculiar relação vai se dissolvendo, ao passo que Jay se envolve com a suposta vida de Claire.

Ai entra a questão do vínculo. É possível dois seres humanos se relacionarem sem criar um vínculo? Seja este sexual, social, psicológico ou imaginário? Na minha opinião não.

Por mais que Claire negasse de todas as formas alguma vinculação com Jay, em seu imaginário ele ocupava algum lugar, algo que fizesse com que ela voltasse toda semana para transar com ele. Ela poderia procurar outros homens (e talvez tivesse mesmo, o filme deixa em aberto), mas sempre voltava a encontrá-lo. Poderia ser por comodismo - por saber ser seguro e por ele concordar (pelo menos até um momento) no "contrato" estabelecido.

Querendo ou não cada um ocupava um lugar imaginário na vida do outro - cumpriam alguma função. Só que para Jay era necessário "pular" mais um degrau na relação. É como se fosse o circuito atual ficar-transar-ficante-namoro... Uma hora um dos dois envolvidos vai querer avançar um passo. E a cada passo dado, aumenta-se o grau de vinculação, de intimidade. Afinal é de intimidade que o filme trata (como no próprio título), e para Jay algo de muito estranho acontecia que ele conhecia a intimidade daquela mulher. Nada. Este paradoxo - o que poderia ser considerado há algum tempo como o máximo de intimidade de um casal, a relação "carnal", hoje pode ser a mais superficial de todas as formas de se relacionar.

Este paradoxo da atualidade dá um nó na cabeça de todos(as). A buscar por apenas prazeres momentâneos traz sim satisfação. Mas uma hora ou outra, nos vemos novamente confrontados com um vazio, uma ausência de sentido. O corpo parece não apenas necessitar de sensações e satisfações. Precisa de verbo, incorporar o outro enquanto significante também. Muitos tentam fugir desta verdade incoveniente, que nos faz se envolver, se perder, procurar algo mais no outro. O caminho só, narcisista e egoísta, se esgota. É preciso encontrar satisfação num outro, seja de afeto, proteção ou apego.

Talvez para Claire fosse apenas fuga, e justamente deste vínculo e apego que seu marido parecia demandar. Mas Jay não tinha ninguém - aliás, já teve. Saiu de casa, abandonando esposa e dois filhos sem compreender direito. E nesta fuga se deparou com Claire. E fugindo de um vínculo acabou se perdendo em um outro...
O filme tecnicamente não tem nada demais, bem simples, assim como as atuações são bem comedidas, com destaque para Mark Rylance como Jay. A trilha sonora de rock (muito boa por sinal) ajuda muito bem no clima. 

Ficha Técnica

Título no Brasil:  Intimidade
Título Original:  Intimacy
País de Origem:  França / Reino Unido / Alemanha / Espanha
Gênero:  Drama
Tempo de Duração: 113 minutos
Ano de Lançamento:  2001
Direção:  Patrice Chéreau 
Elenco: Mark Rylance ... Jay; Kerry Fox ... Claire
Para quem gosta de: temas psicanalíticos, cinema alternativo.
Pontos Altos: trilha sonora, tema, diálogos
Pontos Baixos: n/d
Avaliação Drugstore Bukowski: 8,5.


Trailer