25 de junho de 2008

How to Disappear Completely

Mesmo depois de dez anos de "fã" do Radiohead, o quinteto de Oxford continua me surpreendendo. E me inspirando. Não trata-se do "In Rainbows", último disco dos caras que não deixou de me fascinar (principalmente o disco II, da caixinha que já é a minha relíquia).

Hoje eu já estava indo dormir e resolvi dar uma última "fuçada" no Orkut. E na comunidade "Radiohead Brasil" encontrei a dica de um texto de "O Globo" em que um jornalista, num tom extremamente emocionado relata um show que assistiu do Radiohead em Paris. O tom exagerado só vale para não-fãs, por que quem conhece a acompanha a banda, como é o meu caso, entende muito bem a profusão de sentimentos que Thom Yorke e Cia. consegue provocar.

No fim da reportagem encontro um video do Youtube com uma versão ao vivo de "How to Disappear Completely", e novamente esta música consegue me tocar, e de uma forma diferente. trata-se da melhor versão ao vivo que já ouvi da música (uma apresentação ao vivo da banda gravada em Paris pelo Canal+).


Já ouvi muito essa música, ela fez parte de muitos momentos de minha vida. Repleta de angústia, de um sentimento de perdição, de entrega ao obscuro, de uma ida ao inferno. Parece que a voz de Thom Yorke vagueia pelos meandros mais perdidos de sua alma procurando refúgio, um lugar seguro. E só encontra a ausência. Encontra o nada. "Eu não estou aqui, isto não está acontecendo". É um pesadelo, um encontro inevitável com o Real.


Uma vez li em algum site que a música teria sido composta após um pesadelo que Thom teve e, ao acordar sobressaltado, resolveu escrever. É o que parece mesmo, uma viagem ao inconsciente, desalodora e infinita.


O começo com um violão quase repetitivo, calmo e cadente, e logo um teclado que inicia baixo e sinistro, que vai crescendo conforme a melodia se desenvolve. De repente surge um arranjo (acho que e guitarra) que se repete em um espaço de tempo determinado que confere um clima assustador - e que faz com que o ouvinte espere que se repita novamente. Tudo muito estranho, inquietante e avassalador. Quem não é acostumado com o estilo do Radiohead facilmente rotula como uma canção "depressiva", angustiante. E é, mas muito mais do que isso. É inominável os sentimentos que são trazidos à tona por esta música.


É um caminho rumo ao inferno, mas é um caminho necessário. É o mergulho rumo ao interior de si, algo que poucos se arriscam nos dias atuais. Em uma época em que tudo o que represente dor e profundidade são afastados viemente, evitados e abnegados para uma falsa felicidade buscada a qualquer momento e qualquer custo, uma viagem tão contudente é simplesmente taxada de "deprimente".


"How to Disappear Completely" leva a um contato muito íntimo com aquilo que talvez mais te encomode: aos seus sentimentos mais pertubadores e intrincados, ao encontro com a parte de si que se postulou evitá-la, e que nunca deixará de emergir, só que de outras formas mais distorcidas.


Video:


12 de junho de 2008

Drugstore Bukowski Recomenda [Cinema]: "Runnig with Scissors" (2006)

"Se alguma vez você pensou por que nasceu em uma família como a sua, o melhor é relaxar e agradecer que Burroughs não seja seu sobrenome".

Assim é a chamada para o filme que está na programação da HBO neste mês e que eu assisti esses dias. Trata-se de uma história real do jovem Augusten Burroughs, contada em um livro auto-biográfico com o mesmo título do filme.

A história se passa nos anos 70, Augusten (interpretado pelo novato Joseph Cross, que fez algumas aparições em "Smallville" e "Third Watch") é um adolescente homossexual cujo pai é um professor alcóolatra (Alec Baldwin, em uma interpretação consistente) e a mãe uma escritora frustrada que caminha para a loucura (interpretada magisltralmente pela ótima Anette Bening, de "Beleza Americana"). Após se separarem, sua mãe o entrega ao seu psiquiatra, Dr. Finch, um pirado que ao invés de curá-la, parece ter induzido-a ao surto.

Augusten é obrigado então a viver com a excêntrica família do Dr. Finch, pois sua mãe está cada vez mais distante do mundo, e não o quer por perto, assim como seu pai esquece totalmente dele. A família Finch é uma história a parte. Augusten logo se identifica com Natalie, a filha rebelde interpretada pela maravilhosa Evan Rachel Wood (de "Aos Treze"). Moram ainda na casa a catatônica esposa Agnes e a beata Hope (na insonsa interpretação de Gwyneth Paltrow - aquela mesma que "roubou" o Oscar de Fernanda Montegro). Completam o time o esquisitão esquizofrênico Neil Bookman, interpretado muito bem por Joseph Fiennes.

Trata-se de um dramalhão com pitadas de humor negro, razão talvez pelo fracasso nas bilheterias americanas (fato que impediu o lançamento no Brasil no cinema, indo direto para Dvd). Eu não sabia nada do filme, e portanto assisti da melhor forma possível, sem pré-conceitos, e me surpreendi ao ver as críticas negativas em sites de cinema. Embora todas de fãs de cinema e não de críticos realmente - não que eu vá muito com a lata desses críticos. A questão é que é um filme bom, cujo enredo se sustenta no bizarro e no surreal, o que talvez dificultou a apreciação por alguns.

A direção é do estreante Ryan Murphy, que dirigiu alguns capítulos de Nip/Tuck. Quem já assistiu a série pode ter uma idéia de como o diretor lida com a realidade, marcada pelo exagero. Este excesso do filme é justamente o que leva à reflexões, pelo menos para mim. Quem é fã de Tarantino e Almodovar (como eu), dentre outros, diretores que pintam seus filmes com cores fortes, sabe do que estou falando.

Neste filme é a família que surge como tema central. Que influências pode ter a criação e a nossa convivência com nossos pais? Até onde nossas trajetórias não são guiadas pela bagagem que adquirimos no decorrer da infância? São essas questões que aparecem no filme de forma brilhante, através do surreal das relações dos personagens, principalmente entre Augusten e Natalie, os personagens que não se conformam com o meio que vivem (juntamente com o doidão Neil).

Podem parecer bizarras mesmo algumas cenas do filme (como a que Dr. Finch acorda a família para verem seu "cocô", que segundo ele era uma mensagem divina), porém se olhar pelo viés da psicose, muitas cenas tornam-se verossímeis. Quem já teve contato com um psicótico tem noção da tragédia que é a vida dessas pessoas condenadas a não participarem do mesmo mundo simbólico da maioria. Neste contexto, muitas cenas que a primeira vista é para serem engraçadas, são muito tristes. As cenas de humor servem no filme para dar uma "quebrada" no gelo, pois a vida de Augusten não é nada fácil.

Augusten e Natalie parecem questionar: quem poderemos ser vivendo no meio desta loucura toda? Natalie queria fazer faculdade, mas seu pai gastou o dinheiro para pagar dívidas. Sua mãe vive para servir as loucuras do Dr. Finch. Hope também convive com o status quo psicótico, abrindo mão de sua vida e sendo mais uma sombra de Dr. Finch. Neil traz a tona o paradoxo do Pai para a psicose: o ama, assim como quer matá-lo (fato que Dr. Finch parece ter aprendido muito bem com a psicanálise escrota que ele pratica, ao afastar Neil de sua casa, temendo por sua vida).

Neste desfiladeiro de personages vivendo no limite entre a razão e a loucura que o filme se constrói, trazendo a tona os segredos e esconderijos morais que uma família pode guardar. Quem sou eu além do que minha família permitiu que eu fosse? A questão do abandono, tão presente no Brasil, surge ai como um paradigma: Augusten e Natalie buscam a todo custo serem alguém diferente de suas famílias, e isto é possível?
















Ficha Técnica

Título: "Correndo com Tesouras" ("Running with Scissors", Eua, 2006)
Gênero: Drama
Duração: 116 min.
Direção: Ryan Murphy
Elenco: Annette Bening (Deirdre Burroughs),Brian Cox (Dr. Finch), Joseph Fiennes (Neil Bookman),Evan Rachel Wood (Natalie Finch), Alec Baldwin (Norman Burroughs), Joseph Cross (Augusten Burroughs), Jill Clayburgh (Agnes Finch), Gwyneth Paltrow (Hope Finch).
Roteiro: Ryan Murphy, baseado em livro de Augusten Burroughs
Produção: Dede Gardner, Brad Grey, Matt Kennedy, Ryan Murphy e Brad Pitt
Para quem gostou de: "Os Excêntricos Tenenbaums", "Peixe Grande e suas Histórias Maravilhosas".
Destaques: Anette Bening, Evan Rachel Wood, Brian Cox e Alec Baldwin
Pontos Altos: trilha sonora, atuação dos atores, roteiro, bizarrices, carga emocional.
Pontos Baixos: Gwyneth Paltrow, uma atriz sempre sem sal; a fotografia poderia ser melhor trabalhada.
Avaliação: 8,5

Trailer



Divulgação: Pedro, Porcos e Putas

Companhia Subjétil apresenta:

PEDRO, PORCO E PUTAS

Roteiro e Direção: Darlei Fernandes
Com Vida Santos, Patricia Cipriano, Lucas Buchile, Juliana Souza, Vanessa Benke e Rafael di Lara
Local: Teatro Novelas Curitibanas, Rua Presidente Carlos Cavalcantti, 1222 Fone: +55 41 3321-3358.
Única Apresentação dia 05 de Julho às 21H - ENTRADA FRANCA
“A tragédia no palco não me basta mais, vou transportá-la para a minha vida” (Artaud). Vamos, assim, em busca do Teatro Subjétil, onde o corpo não é corpo, o objeto não é objeto, mas corpo e objeto são corpo e objeto. Onde a visibilidade cênica, o elemento da representação, o sujeito e o objeto são, em suma, subjétil...(dARLEI fERNANDES)
Madonna, o hip hop e a heterossexualidade são contrarevolucionários...Porco, puta!

11 de junho de 2008

Drugstore Bukowski Recomenda [Música]: Silversun Pickups

Deparei-me com esta banda em 2007, fuçando o site do Indienation .

O primeiro disco deles, "Carnavas" (2006), foi eleito pelo site como melhor do ano. Não que sites especializados como o indienation sejam referência obrigatória para bandas que realmente interessam, pois num mundo cada vez mais homogeneizado como o atual, tende-se a criar a nova sensação do rock a cada dia.

Mas para a minha surpresa acabei curtindo de cara o som da banda. Pra começar me chamou atenção as influências mais óbvias da banda: Sonic Youth e Smashing Pumpkins, duas das bandas mais criativas dos anos 90, e também duas das minhas prediletas. E não é que o som deles parece justamente a junção destas duas bandas? Se acrescentar um vocal meio andrógino, como do Placebo por exemplo, tem-se o som deles.

Tirando a mistureba que descrevi, vale a pena conferir o som. Guitarras distorcidas na medida, bateria alucinada e a sobreposição dos vocais completando. Além de uma linha de baixo ótima. Além do "Carnavas" de 2006, há o Ep "Pikul" de 2005, muito bom também, porém é no álbum que todas suas facetas são demonstradas.


Silversun Pickups - "Pikul" (2005)
Local: Eua
Pra quem curte: Smashing Pumpkins, Sonic Youth, guitarras distorcidas com melodia.
Destaques: Kissing Families, The Fuzz, All the Go Inbetweens, Sci-fi Lullaby.
Nota: 9,0.


Silversun Pickups - "Carnavas" (2006)
Destaques: Todas. As preferidas: Common Reactor, Melatonin, Lazy Eye.
Nota: 10,0 (clássico)





Video: Lazy Eye, do álbum "Carnavas" (2006)