26 de maio de 2015

Série Músicas de uma Vida*: "Darklands" - The Jesus and Mary Chain

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O ano era 2009. E o início da música não poderia representar melhor o que estava acontecendo em minha vida:


I'm going to the darklands                  
(Estou indo para as terras escuras)

to talk in rhyme                                    
(para conversar em rimas)

with my chaotic soul                           
(com minha alma caótica)

Havia passado um período conturbado de mudanças, marcado por muita angústia e desilusão. Minha alma estava em pedaços, tentando juntar o que restou. Eis que no fim do túnel parecia haver uma luz, mas não era bem assim que eu a encarava. Surgia uma chance de mudar tudo, de deixar tudo para trás e ir viver algo totalmente novo. E obscuro. Eu não sabia se conseguiria superar tudo em um novo ambiente, longe de minha família e de meus amigos. Mas eu sentia um misto de ansiedade e de muita esperança de que tudo ia ficar bem.

Eu estava indo para "Darklands". Esse era o meu sentimento. E a música do Jesus and Mary Chain tocava em meu coração sem parar. A levada leve e cheia de melodia transmitia uma paz profunda embora a letra fosse angustiante. E era assim que justamente eu estava me sentindo: com uma sensação muito boa de que tudo ia mudar radicalmente, mas no fundo eu sentia muito medo. Medo de que tudo voltasse, que a ansiedade me paralisasse, e pior, longe de tudo e de todos.

Mesmo assim, naquele dia em que peguei o Ford Ka e apenas uma mala (cheia de ilusões, como diria a música dos Mutantes), eu resolvi apenas ir. Deixar que o devir resolvesse meu futuro. E eu queria ficar também, assim como no final da música em que o personagem constata a dubiedade de nossos sentimentos. Partir significa perdas. E possibilidades infinitas. 

Eu era um jovem que fora criado sob a égide de pais protetores e até aquele momento eu dependia quase totalmente deles. E eu precisava sair dali para crescer, maturar e atingir finalmente a minha tão sonhada autonomia. Era algo que eu desejava há muito tempo e não via a hora de isso acontecer. E ali eu não estava conseguindo, não pelos meus pais, mas pela história que eu havia tentado construir e que nos últimos tempos havia se desmanchado. 

"Darklands" marcou brilhantemente essa fase de abandono, fuga e reconstrução de minha vida. E no final o meu destino não se revelou como "as terras escuras", mas sim um lugar iluminado onde encontrei muito acolhimento e novas experiências. De início uma solidão que serviu para amenizar as feridas mais expostas. E depois um encontro que mudou tudo e possibilitou uma nova vida. Mas ai já é história para outra canção tão marcante quanto esta! 


* Esta série de posts abordará músicas que fizeram parte e marcaram períodos ou episódios significativos de minha vida.